AUDIAÇÃO
- Lucas Rocha Freitas Músico
- 22 de jul. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de out. de 2023
Segundo Gordon "Audiação é a audição da música na mente quando o som não esta fisicamente presente. Alguém audia ao recordar uma música ou ao compor música" (Gordon, 1985, p. 34).
É possível ser músico sem audiar?
É possível ser instrumentista sem audiar?
Em uma descrição de três escolas de técnica pianística citada no livro "A Arte de Tocar Piano" do escritor George Kochevitsky". As escolas mais antigas, como veremos não pareciam dar impor-tância a audiação.
Nos cem primeiros anos após a invenção do piano forte, o ensino de piano concentrou-se na ação dos dedos. Um dos conceitos principais dessa escola é de que a formação técnica é um procedimento puramente mecânico, exigindo muitas horas de prática diária.
A escola dos dedos foi representada pelo ensino de homens que na prática eram incapazes de acompanhar as mudanças ocorridas no tempo – modificações do instrumento, novas exigências técnicas apresentadas ao intérprete, novas conquistas científicas. A escola anátomo-fisiológica foi o ensino dos teóricos (KOCHEVITSKY, 2016, p.6)
No século XIX a escola anatomo fisiológica foi responsável por formar professores que publicaram muitos trabalhos descrevendo como devia ser tocado o piano e muitos desses explicando anatomia e como cada movimento devia ser executado.
Uma vez que a base científica desta filosofia residia na anatomia e fisiologia do aparelho osteomuscular, a escola de técnica que surgiu daí tem sido muito apropriadamente chamada de escola anátomo-fisiológica por Grigori Kogan (KOCHEVITSKY, 2016, p.14).
Na escola psico-técnica no século XX a prática da técnica pianística bem sucedida depende da compreenção musical.
O estudo é um processo psicofisiológico. A prática bem sucedida depende da clareza da nossa concepção mental de um propósito musical, da capacidade da atenção concentrada e da energia diretamente voltada para a realização deste objetivo. Representantes da escola psico-técnica estão menos preocupados com a agilidade abstrata dos dedos do que com a substância musical da obra que está sendo executada. Uma vez que os problemas reais do pianista são musicais ao invés de técnicos, Busoni sugere que, até que o significado musical se torne claro, não se deve tocar o instrumento. Uma vez que as demandas do teclado tendem a nos forçar a esquecer do significado musical, a prática mental longe do instrumento desempenha um papel importante no trabalho de preparação (KOCHEVITSKY, 2016, p.25).
Como podemos ver a música à ser tocada nem sempre foi o mais importante para o pianista e o a compreensão da música ganhou mais importância conforme o desenvolvimento da pedagogia.
Uma das citações de Gordon vem a demonstrar a prática da audiação no estudo do instrumentista. "Neste processo da audiação cantamos e manipulamos música em nossa mente na ausência externa do som e os ouvidos tornam-se mais importantes que os dedos e o instrumento" (Gordon, 2000,p.7).
A audiação tem um papel fundamental para o processo do intrumentista, arranjador ou compositor. Sem a audiação não há como planejar o que será feito no arranjo ou composição. Sem audiar o arranjador ou compositor deixa de saber a consequência sonora de cada ato, ferramenta e conteúdo usados durante o processo músical.
Por exemplo,os compositores que audiam não dependem de um instrumento musical para compor, manipulam mentalmente e conscientemente a melodia, harmonia, ritmo e instrumentação. Quando executamos música sem compreender,rapidamente a esquecemos. Quando lemos ou escrevemos música em partitura sem audiar, estamos simplesmente decodificando símbolos (Gordon, 2000,p.7).
Com o improvisador não é diferente, sem audiar o improviso resultará em frases indecisas e falta de domínio musical. Quanto mais fiel o instrumentista for às idéias e ao que ele esta "ouvindo internamente" mais sucesso ele terá em seu improviso. Audiar gerará a capacidade de começar o improviso, desenvolve-lo, criar dinãmicas e entregar o solo por exemplo.
Podemos perceber que é possível tocar sem audiar, mas não é possível ser músico sem audiação.
REFERÊNCIAS
KOCHEVITSKY, G. A. A arte de tocar piano: uma abordagem ciêntifica. Tradução de Paulo Novais de Almeida. Salvador PPGPROM - UFBA (2016)
GORDON. E. E. Research Studies in Audiation. Bulletin of the Council for Research in Music Education. No. 84 (Fall, 1985), pp. 34-50 (17 pages) University of Illinois Press
Gordon, Edwin E. Teoria da aprendizagem musical: competências, conteúdos e
padrões. Tradução de Maria de Fátima Albuquerque. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
MARANGONI. H. M. FREIRE. R. D. Uma discussão entre os conceitos de Ouvido Interno, Representação Mental, Imagética, Audiação e Prática Mental e suas implicações para a
Cognição Musical.
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